O Pantanal, maior planície alagável do planeta e principal refúgio de
vida silvestre das Américas, está se tornando um cemitério de árvores em
Mato Grosso do Sul. Uma inundação avança há 30 anos, desde que a
vegetação nativa deu lugar a pastos e lavouras nas terras onde estão as
nascentes dos rios que formam a Bacia do Rio Taquari. Naquela época, não
se sabia o impacto que o desmatamento poderia ter no rio.
Sem a proteção natural, o resultado foi a degradação do solo. A chuva
carregou milhares de toneladas de areia e encheu o leito do rio. Com
isso, a força da correnteza abriu "braços", desviando mais da metade da
água para os campos. No total, uma área de 11 mil quilômetros quadrados,
dez vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro, ficou alagada.
Cerca de 30 fazendas já foram abandonadas devido ao isolamento
produzido pelas águas. A região chegou a contar com rebanho de 3 milhões
de cabeças de gado, hoje reduzidas à metade. Uma fazenda, por exemplo,
que tinha 16 mil cabeças de gado foi totalmente inundada e fica
permanentemente embaixo da água.
Para chegar aos locais mais isolados, onde as pessoas vivem ilhadas, é
necessário seguir pelo Rio Paraguai até entrar em um afluente que leva à
região dos alagados. Ao longe, ficam pequenas porções de mata que ainda
não foram alagadas.
Só quem mora na região dos alagados do Rio Taquari conhece o caminho
das águas. Não existem cartas náuticas ou mapas para auxiliar a
navegação.
“O problema dessa região não é a enchente. Nós tínhamos no passado
enchentes até maiores do que essa. O problema é que enchia bastante, mas
secava bastante. Hoje não tem mais isso”, descreve o fazendeiro Armando
Lacerda é tradicional da região.
Aquário natural
Enquanto na superfície a vegetação nativa dá sinais de que não suporta
tanta água, na área de inundação permanente do Rio Taquari a natureza
mostra a sua força. Mergulhando nos canais abertos na vegetação,
encontra-se um Pantanal diferente embaixo da água, um aquário natural.
Plantas coloridas e diferentes tons de vermelho podem ser observados.
Protegidos pela vegetação, os cardumes encontram um lugar seguro.
Para entrar na água, não se pode tocar os pés no chão, pois a matéria
orgânica do fundo levanta e suja a água cristalina. O desastre natural
acabou formando um labirinto com alguns dos melhores pontos de mergulho
de água doce do mundo.
Sinal de que a natureza se adapta, mas o problema está longe de ser
resolvido. Já começou o plantio de mudas nativas para recuperar as matas
em volta das nascentes e evitar que mais areia desça para o rio. Mas o
resultado pode levar décadas.
“Se ela não for recuperada, não adianta recuperar de baixo, porque vai
causar problema lá embaixo”, explica o engenheiro agrônomo Felipe Dias,
especialista em bacias hidrográficas.
Fonte: G1
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